O que Adriano dirá ao ser inquirido sobre a fotografia em que aparece mostrando as letras C e V?

E se a Argentina for campeã do mundo e Maradona tirar a roupa em frente ao obelisco de Buenos Ayres?

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Falta à Brasileira

Ganha cada vez mais força entre os analistas de futebol, sobretudo aqueles que exercem suas funções em emissoras de televisão, a concepção de que o contato deve ser mais tolerado durante uma partida de futebol, tal como já ocorre em gramados europeus. Segundo os defensores da tese, a marcação de um menor número de faltas permitiria que o jogo fluísse melhor, sem sofrer tantas interrupções por conta das denominadas ‘faltinhas’ou ‘faltas à brasileira’.
Particularmente, penso que a concepção revelada por respeitáveis jornalistas esportivos não interessa em nada a nós brasileiros. Valorizamos o jogador driblador, habilidoso, capaz de enfileirar meia equipe antes de fazer a bola descansar macia na rede. Quanto mais tolerado o contato, menor é a probabilidade do craque (ou pelo menos aquele que nós brasileiros entendemos como sendo craque) obter êxito em realizar as jogadas que fazem valer a pena assistir uma partida de futebol. Caso trilhemos o caminho sugerido pelos adeptos da nova tese, teremos menos ‘Robinhos’ e mais ‘Felipes Mellos’, pois facilitaremos o desarme, dificultando, em contrapartida, o drible.
Talvez a tese faça sentido na Europa, diante da valorização da força naquele continente. Nunca é demais lembrar que a Europa criou o futebol força, justamente para se contrapor ao nosso futebol arte. Portanto, tratemos de favorecer a arte e não de contribuir para que eles favoreçam a força.
Também desejo que os jogos de futebol fluam melhor, sem tantas interrupções. Todavia, na defesa do estilo brasileiro de jogar futebol, sugiro a formação de concepção diversa. Que tal tolerarmos menos o contato e excluirmos do jogo todo aquele que cometer três faltas? Afinal, ‘Robinhos’ são capazes de encher estádios inteiros, mas pouquíssimos espectadores saem de suas casas para ver ‘Felipes Mellos’ desfilarem seu futebol.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

O que buscamos na Copa do Mundo?

Às portas da Copa do Mundo devo dizer que Dunga tornou-se meu devedor e sua dívida jamais poderá ser quitada, mesmo que a Seleção Brasileira torne-se hexacampeã mundial.
Minha expectativa para o mundial de futebol era imensa, típica daquela inerente a toda Copa do Mundo. Marquei minhas férias para o mês de junho, construí em minha casa um espaço destinado a assistir os jogos, convidei os amigos para os churrascos que faria, fiz orçamentos dos adereços em verde e amarelo que decorariam o ambiente. Tudo era empolgação até o momento em que Dunga anunciou a lista dos jogadores que representariam o Brasil na competição esportiva de maior visibilidade do planeta.
Murchei. Sob o argumento de que o importante é o resultado, os vinte e três eleitos de Dunga eram basicamente aqueles que venceram a Copa América, as Eliminatórias e a Copa das Confederações, jogando um futebol incapaz de gerar qualquer expectativa, apesar do êxito. Sem Ronaldinho Gaúcho, Neimar ou Paulo Henrique Ganso, mas com Josué, Gilberto Silva, Kléberson, Felipe Mello, Júlio Baptista e Elano, o futebol brasileiro é como uma coxinha engordurada de padaria. Até pode atingir o resultado de alimentar o corpo, mas jamais será sublime a ponto de alimentar a alma.
Não deixo de levar em conta que atualmente estamos sob o “Império do Resultado”. Praticamente todos os analistas do futebol defendem que a busca da vitória e dos títulos deixa todo o resto em segundo plano. Mesmo que eu fosse adepto desta concepção, não poderia deixar de perceber que Paulo Henrique Ganso facilitaria a obtenção das vitórias e do título. Não há um único jogador do grupo de Dunga que tenha as características de Ganso (talvez não haja um único jogador em atividade no mundo com tais características). A capacidade de organizar um ataque contra uma defesa já postada, por meio do passe vertical preciso e genial, não está presente na Seleção convocada por Dunga, ainda que saibamos que noventa por cento das equipes que enfrentam o Brasil mantenham suas defesas postadas durante toda a partida. Não é possível imaginar que a inserção de Paulo Henrique no grupo, trazendo consigo a capacidade antes mencionada, pudesse dificultar o resultado, por força da retirada do grupo de Elano, Júlio Baptista, Josué ou Kléberson.
Some-se a isso que para o futebol brasileiro, mundialmente consagrado pelo desempenho demonstrado nos gramados, a busca somente das vitórias e do título é muito pouco. Nossa Seleção deve ser um instrumento de afirmação da nossa identidade cultural. Quando observamos uma pelada entre meninos, aquele que nos chama a atenção é o que domina sem maior dificuldade, dribla com habilidade, tem o passe certeiro e mortal, chuta com colocação precisa e não o que marca com disposição e rouba vinte bolas durante a partida. Nada obstante a importância do segundo, é o primeiro que abusa do improviso, da criatividade e da habilidade que são essenciais à vida da ampla maioria da população brasileira. É valorizado porque deixa claro no campo que representa quem somos na vida. Talvez por isso todos nós valorizemos mais a Seleção de 82, eliminada antes mesmo das semifinais, quando comparada a de 94, campeã do mundo após 24 anos.
Ganso tem vinte anos e certamente terá três Copas do Mundo pela frente. Poderia ter quatro. Portanto, Dunga nos subtraiu vinte e cinco por cento do tempo de Paulo Henrique em Copas do Mundo, a fim de manter em seu elenco jogadores eficientes, mas que não representam nosso futebol. Será nosso devedor para sempre.